O PADRE

JOÃO RIBEIRO

O padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro nasceu em Tracunhaém, Pernambuco, a 28 de fevereiro de 1766. Foi colaborador botânico nas expedições científicas voltadas para a botânica do naturalista Dr° Arruda Câmara, de quem recebeu grande influência intelectual.


Homem culto, João Ribeiro entrou para vida religiosa no convento do Carmo, estudou, depois, no Seminário de Olinda e concluiu seus estudos no Colégio dos Nobres em Lisboa. Teve influência das ideias da Revolução Francesa no período que estudou na Europa. De volta para Pernambuco, estabeleceu-se como Sacerdote e professor no Seminário de Olinda. Nesta época, o Brasil tinha passado a Reino Unido de Portugal e Algarves e era sede do governo Português na pessoa de Dom João VI, que viera para o Brasil com quase toda corte para fugir da dominação francesa. Era, então, tempo das ideias separatistas na Europa e América do Norte.


A Revolução Pernambucana de 1817 reuniu intelectuais, padres, senhores de engenhos, comerciantes e militares na busca de seus ideais de liberdade. O movimento eclodiu no dia 16 de março, durou 74 dias de República e expandiu-se até as províncias da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Ao padre João Ribeiro, por sua liderança e ideias com base num vasto conhecimento da causa, coube o cargo relativo aos negócios eclesiásticos, tendo recebido o total apoio dos religiosos e, também, do povo.


Não tardou a reação das Tropas Reais, o Recife foi tomado pelas tropas e todos os chefes foram mortos com a cabeça decapitada. O padre João Ribeiro marchou com o destaque da tropa do Exército Patriótico para o engenho do Paulista, onde tantas vezes, em reuniões secretas, proclamara suas ideias de liberdade. Tiveram, então, notícia da derrota total do governo Provisório Revolucionário e da perseguição pelo Exército Real aos que haviam fugido da Capital. Entendendo que a derrota do movimento era o fim dos seus ideais e que seriam todos mortos pelas forças do poder prepotente que ele combatera, padre João Ribeiro fez seu próprio julgamento, não aceitou que seus ideais fossem vencidos pelos inimigos e suicidou-se por enforcamento, como um forte soldado que não se entrega. Foi sepultado ao lado da Capela de Nossa Senhora da Conceição do Engenho Paulista. Três dias depois, seu cadáver, após ser desenterrado, foi mutilado, esquartejado e sua cabeça ficou exposta com escárnio na Praça do Pelourinho em Recife, por determinação do Almirante Rodrigo Lobo, comandante da esquadra das forças governamentais vitoriosas, que fora enviada pelo governo da Bahia.


O crânio do padre João Ribeiro, até o ano de 2001, estava guardado no Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco, local onde se cultua a História pernambucana. A diretoria do Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco, naquele ano, entendeu que, sem o sepultamento, o castigo do padre seria perpetuado e, junto ao Governo do Estado, à Arquidiocese de Olinda e Recife, o Vigário Administrador da Paróquia, e o Prefeito Municipal, junto com o secretário de Turismo, Esporte e Cultura da Cidade do Paulista, resolveram sepultá-lo dignamente e de modo cristão, num gesto de respeito ao homem público e de ideal nacionalista que foi o Padre João Ribeiro. Em 29 de outubro de 2001, o crânio do padre João Ribeiro, numa urna de bronze, finalmente foi enterrado num túmulo, construído especialmente para ele dentro da igreja de Santa Isabel Rainha de Portugal, no Centro de Paulista, à esquerda de quem entra no templo, após quase 2 séculos de seu sepultamento fora da igreja de Nossa Senhora da Conceição do engenho Paulista.


A nova sepultura na igreja de Santa Isabel é lacrada por uma placa de granito. Do lado esquerdo fica uma placa de bronze, contando a história da luta do religioso, e, no lado direito, um brasão em bronze com representações das Armas e Honras do Estado de Pernambuco, feito pelo escultor Jobson Figueiredo. Enfim, Paulista deu honrarias e o descanso merecido ao herói da Revolução Pernambucana de 1817, que, antes, em seu solo, pôs fim à sua vida, num gesto nobre de patriotismo.